quinta-feira, abril 05, 2012

Escrever em/para o Literacia implica, portanto, em uma apropriação consciente da palavra, mas também, na medida do possível, responsável e transformadora.


Aprendi novas palavras
E tornei outras mais belas.
(Canção Amiga -Carlos Drummond de Andrade)

Ave, verbo


Escrever em um espaço que tem como título Litteracia é uma enorme responsabilidade.
Além do time de colunistas de altíssimo nível que por aqui aporta, o próprio título do site nos remete à informação, à capacidade de utilização da informação, nos remete ao processo de letramento e a várias reflexões a ele relacionadas, nos remete, enfim, ao poder da palavra.

Porque literacia significa a capacidade que tem o indivíduo de, lendo e compreendendo a informação escrita, atingir seus próprios objetivos, desenvolver suas habilidades, participando de forma efetiva na sociedade. Não se trata apenas de decodificar o que está escrito – disso a alfabetização dá conta, ou deveria dar conta. Trata-se, essencialmente, da utilização de um conjunto de capacidades relacionadas ao processamento da informação obtida através da escrita, para a solução de tarefas do dia-a-dia, quer seja no trabalho ou na vida de um modo geral.

Escrever em/para o Literacia implica, portanto, em uma apropriação consciente da palavra, mas também, na medida do possível, responsável e transformadora.

Diante da complexidade da vida atual, saber ler e escrever é muito pouco, embora muitos ainda não tenham dominado isso que seria o básico. A informação encontra-se disseminada hoje através de diversos suportes e as pessoas precisam obter essa informação, captando novas mensagens, transformando-as e utilizando-as na medida em que isso se fizer necessário. Não basta, repito, ler de forma passiva, mal digerindo o que lhe é passado. É preciso também usar o bom senso, a experiência de vida e o senso crítico, elemento transformador por natureza.

A literacia é tão importante na atualidade que tem um dia especial: 8 de setembro. De acordo com FRANCISCO (2008, p. 2),

A palavra literacia tem vindo a ser utilizada para conceptualizar um novo conceito acerca das capacidades de leitura e de escrita. Pretende distinguir-se de alfabetização por não ter em conta o grau de escolaridade a que esta, tradicionalmente, estava ligada. Se o conceito de alfabetização traduz o acto de ensinar e de aprender, um novo conceito, a literacia, traduz a capacidade de usar as competências(ensinadas e aprendidas) de leitura, de escrita e de cálculo. Esta capacidade escapa, assim, a categorizações dicotómicas, como “analfabeto” e “alfabetizado” (Benavente et al.,1995).

LEMOS afirma que “o conceito de literacia inclui a literacia informática, a literacia do consumidor, a literacia da informação e a literacia visual”, o que equivale a dizer que “os adultos letrados devem ser capazes de obter e perceber a informaçãoaa em diferentes suportes. Além do mais, compreender é a chave”.

Quando falamos em literacia, é preciso observar, dentre outras coisas:
•        Ela é algo mutável, dentro de uma mesma população; não é constante, nem permanece para sempre, uma vez adquirida. É algo em constante processo, tendo a ver com aquilo que se intitula estimular a mente, aperfeiçoando-a com o tempo.
•        Não diz respeito apenas ao nível de escolaridade (esse é um requisito básico, não garantido, entretanto, a literacia).
•        Pode ser avaliada, não através de medidas exatas, mas através da competência para o desempenho das funções sociais.
•        O perfil de literacia de uma população não é algo que possa ser considerado constante, ou seja, que possa ser extrapolado a partir de uma medida temporalmente localizada;

Aí chegamos ao processo de letramento, ao número de analfabetos e, ainda, ao número de analfabetos funcionais existentes em nosso país.

A Lei de Diretrizes e Bases da Educação, nossa Carta Magna em relação ao assunto, preconiza a progressão continuada, através da qual o aluno com dificuldade em determinada matéria não seria simplesmente reprovado. Ele ser promovido, cursando a série seguida e, em horário diferenciado, deve cursar a recuperação paralela, que lhe permite avançar naquela disciplina específica em que não obteve sucesso.

Entretanto, a progressão continuada é transformada em aprovação automática, uma pura enganação que serve apenas para os governos de todas as esferas não terem que arcar com os custos da recuperação paralela e também para diminuir, por decreto, os índices de reprovação.
Como Educadora, jamais concordei com isso, simplesmente porque, após a referida aprovação por decreto, o nível de interesse dos alunos caiu a zero. E aí culpam o Professor que, segundo alguns pedagogos, não consegue motivar a turma. Então, me pergunto como motivar alguém que vai à escola, quando vai, sem material (embora receba gratuitamente o material necessário e, em alguns casos, o uniforme completo) e com a firme disposição de azarar a vida do Professor e colegas? Fácil falar, quando se está atrás de uma cadeira de Diretor, de Coordenador... Ai, ai.

Enquanto o Prefeito do Rio de Janeiro, ao assumir a Prefeitura, afirmou acabar com a aprovação automática, o Governador de São Paulo acaba com a recuperação paralela, porque, segundo ele, a frequência era baixíssima. Ora, meu Deus, e o alunado não precisa ter responsabilidade? E a família, onde fica nisso? Ah, essa há algum tempo delegou a responsabilidade de educar à escola, com desculpas diversas, inclusive a da falta de tempo.
Mas esse contra senso só faz apoiar a irresponsabilidade do adolescente. Se ele foi aprovado com a condição de cursar a recuperação paralela, deve haver uma forma de garantir que o faça.
 Porque, enquanto tivermos essa aprovação “de araque”, teremos analfabetos funcionais, incapazes de decodificar o texto escrito, incapazes, mais ainda, da necessária literacia.
A palavra, o verbo feito mensagem, seja de que tipo for, é um alimento para a alma.
Sobre a palavra, disse Carlos Drummond de Andrade:

A palavra
Já não quero dicionários
consultados em vão.
Quero só a palavra
que nunca estará neles
nem se pode inventar.
Que resumiria o mundo
e o substituiria.
Mais sol do que o sol,
dentro da qual vivêssemos
todos em comunhão,
mudos,
saboreando-a.

E depois disso, façamos um brinde: ao amor, à palavra e à linguagem, que nos permite a comunicação. Brindemos à vida e à própria sede de vida. Brindemos ao site Literacia, que faz aniversário.

Benditos sejam


M. Esther Torinho
Bendito o amor
esse arco-íris
pintado por um anjo pródigo
na tela escura da vida.
Benditos o amor e o anjo
que as pinta
mesmo que essa tinta
fique tantas vezes esmaecida.

Bendita a palavra
que a boca destrava
e concorre para a lavagem
da alma.

Bendita a linguagem
esse código
que nos permite
expressar amor
Bendita a coragem
de ir mais além
e ultrapassar os próprios limites
apesar dos fracassos
apesar de toda a dor.

Bendito seja o ventre
que nos dá a luz do dia
Bendita seja sempre
a sede de vida.

Ave, verbo. Até a próxima
M. Esther Torinho
Fontes de consulta:

Francisco, Rita. Literacia. Faculdade de Economia. Universidade de Coimbra. Disponível em:
http://www4.fe.uc.pt/fontes/trabalhos/2008028.pdf.  Acesso em 4/4/2012.

LEMOS, Arminda. Dia Internacional da Literacia. Disponível em: http://bibliotecadegas.blogspot.com.br/2009/09/dia-internacional-da-literacia.html.  Acesso em 4/4/2012

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